Reencontro com Eu mesmo
“Além das ideias de certo e de errado há um campo. Eu lhe encontrarei lá. Quando a alma se deleita naquela grama, o mundo já está preenchido demais para se falar nele: ideias, conceitos, linguagem, e mesmo a frase ‘cada um’ já não fazem mais nenhum sentido.”
(Rumi, grande mestre sufi – muçulmano)

A minha busca certamente estou ligado ao advaita-vedanta e aos movimentos de bhakti e jñana do sanathana-dharma, ou a religião eterna. A minha escola espiritual tem a dimensão universal, mas pertenço ao ramo indiano. Meus mestres são todos indianos. Quase todos... Sou muito grato aos historiadores das religiões que muito me inspiram a escrever algo sobre a fase vertical da religiosidade, onde há a fusão de todas as tradições religiosas, e em especial sobre as incríveis obras a respeito dos grandes mestres sufis, budistas, hindus, cristãos entre outros.
Como tive a fase horizontal da religiosidade quase que completamente ligada ao cristianismo e não satisfeito com o seu dualismo e materialismo grosseiros, depois de ler o Bhavagad-gita, em uma tradução muito simples, migrei sob influência de Krishna e Rama para um movimento de bhakti-yoga indiano. Uma escola devocional indiana, originária da Bengala e que tem como mestre supremo Sri Krishna Caitanya. Essa escola foi muito difundida no Ocidente pelo movimento 'Hare Krsisna.'
Isso na época me parecia a realização de todas as minhas aspirações espirituais. Esforcei-me ao máximo na linha de bhakti, seguindo os ditames desta antiquíssima e conceituada linha de yoga. Pratiquei o sadhana-bhakti por longos anos. Estudei o Bhagavad Gita e em especial o Srimad Bhagavatam. Devorei os maravilhosos itihasas; Ramayana e Mahabharata. Procurei maiores instruções em alguns outros Puranas, Pancaratras, Samhitas e Agamas. Mas a evolução espiritual é sempre dinâmica, onde prevalece o arianismo eterno, e acabei me dedicando ao estudo do Vedanta, dos Upanishads e principalmente e dos seus comentários feitos pelo insondável oceano de graça e sabedoria que surgiu como Sri Shankaracaya. Mais tarde, avancei os estudos para o tema de moksha, ou liberação e iluminação, estudei o Yoga Vashista, o Ribhu Gita, Tripura Rahasya, Kaivalya Navaneeta, Vivekacudamani entre outros ícones do advaita- vedanta.
Mas assim como aconteceu com Rumi, toda a leitura de incontáveis escrituras, foi de pequena valia para mim. O encontro entre Rumi e Shams de Tabliz parece-me apropriado para compreender a pouca valia das escrituras para a realização do Ser:
Um dia, Rumi estava lendo ao lado de uma grande pilha de livros. Shams de Tabriz, passando, lhe perguntou: "O que você está fazendo?" Rumi zombeteiramente respondeu: "Algo que você não pode entender." Ao ouvir isso, Shams jogou a pilha de livros nas águas de um tanque das proximidades. Rumi apressadamente tentou resgatar os livros, que continham entre outros assuntos os ensinamentos magistrais do seu pai. Para a sua surpresa, os livros voltaram para onde estavam e todos eles estavam secos. Todavia todas as páginas dos seus livros estavam em branco. Rumi, então, indagou a Shams, "O que é isso?" Ao que Shams respondeu: "Moulana, é isso que você não pôde entender."
A partir de então Rumi aceitou Shams como o seu mestre espiritual, e eles permaneceram em silêncio ao lado do tanque por quarenta dias. Tudo o que Rumi não pudera assimilar com a leitura de incontáveis escrituras, foi-lhe revelado pelo silêncio do mestre espiritual.
O verdadeiro conhecimento espiritual não está nas escrituras, está no coração do mestre espiritual e esse conhecimento nos é transmitido ao nosso coração pela eloquência do silêncio.
O verdadeiro conhecimento espiritual
não está nas escrituras, está no coração do mestre espiritual e esse conhecimento nos é transmitido ao nosso coração pela eloquência do silêncio
Graças a Adi Shankara descobri Bhagavam Sri Ramana Maharishi e depois de me aproximar dele em minhas meditações, o aceitei como o guru, que está sempre presente no coração espiritual de cada um de nós, ou o Consolador (nas palavras de Jesus) e através do seu silêncio benevolente, pude compreender perfeitamente o que João queria dizer com a declaração de Jesus: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar agora.” (João: 16.12) “Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos ei de enviar, Aquele Espirito de verdade, que procede do Pai, testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio.” (João 15. 27,27)

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